Dança Turca - Sua História

Os turcos vieram da Ásia Central e se fixaram no planalto da Anatólia Central. Eles estavam lá séculos antes de ganhar possessão de outras partes da Anatólia, capturar Istambul e avançar sobre Europa, África e Ásia para criar um império. A Península da Anatólia é a ponte entre Ásia e Europa e muitos dos principais migrantes a atravessaram. Durante um período de mais de dois mil anos ela foi habitada por várias civilizações - Hititas, Gregos, Frígios, Lídios, Capadócios e Bizantinos para citar alguns. Apesar de não haver uma dança nacional turca, há milhares de danças populares que incorporam elementos de muitas dessas culturas. Proibições muçulmanas de dançar afetaram mais os cidadãos, e não os camponeses nas vilas isoladas.
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Metin And, um especialista turco em danças folclóricas turcas diz que há grandes similaridades entre muitas danças folclóricas turcas e as danças dos Bálcãs (Iugoslávia, Romênia, Bulgária e Grécia), e que algumas danças ditas gregas na verdade podem ter vindo dos turcos. Isso é veementemente negado pela maioria dos estudiosos gregos. O Sr. And cita um estilo de dança chamado "zeybek" (turco) que os gregos chamam de "zeybeckikos". A palavra turca para "Ciftetelli" é também o nome de uma dança executada na Grécia. Ele atribui isso à herança comum vinda das planícies da Anatólia. O ciftetelli, ambas versões rápida e lenta, são familiares a todas as dançarinas que usam músicas turcas. O ritmo ciftetelli rápido é mais exclusivamente turco do que o lento.

Muitas referências a práticas de danças folclóricas turcas aludem ao significado de muitos acessórios de dança usados por dançarinas do ventre. Na cerimônia de casamento turca, há uma cerimônia de henna apresentada para a noiva na noite, que inclui uma grande dança de círculo onde os participantes portam velas acesas em pratos. Considera-se que tanto a decoração de henna quanto as velas têm função mágica de proteção. Homens e mulheres vão a festas de henna separadas para a noiva e o noivo. A tradição exata varia de região pra região: Em Arapkir, as únicas mulheres que podem dançar com velas acesas em pires são as que estão felizes no casamento e só se casaram uma vez. Tipos parecidos de danças podem ser encontrados em outros países que foram expostos à influência muçulmana como a Pérsia, Norte da África e Malaia, onde a dança é chamada de "menari hinei". As cerimônias de casamento também utilizam uma espada como um objeto mágico de proteção; por exemplo, nas danças de espada realizadas à frente de procissões de casamento. Há também uma dança síria da noiva, onde a espada lembra o noivo de dar à noiva o devido respeito!

Metin And classificou as danças da Turquia em três categorias: dança religiosa, para prazer próprio (como em danças folclóricas), e de espetáculo. Sob a categoria de dança religiosa, a longa e honorável história das danças Sufis emerge. A dança também era parte da vida cotidiana das pessoas comuns, que dançavam para seu próprio prazer. Mas a instituição de dançarinas profissionais era tão altamente desenvolvida que merece um olhar mais detalhado.

As danças turcas se desenvolveram em dois planos diferentes, e em dois contextos culturais: Istambul, capital do Império Otomano, algumas outras cidades grandes, e as vilas rurais. O Sr. And sustenta que o isolamento geográfico de vilarejos remotos ajudou a preservar mais de mil danças folclóricas. Esses camponeses são os fragmentos incertos das hordas nômades que vagavam para a Ásia Menor na Idade Média, alguns dos quais ainda são semi-nômades. O segundo nível de desenvolvimento foi a influência da corte no tempo do Império Otomano. O menor acontecimento na corte afetaria a população inteira: o nascimento de um novo príncipe, a cerimônia de circuncisão, um casamento, a ascensão de um novo governante, ou simplesmente o cingir da espada do sultão. Tudo fazia necessária uma cerimônia pública.

Essas festividades aconteciam em grande escala, incluindo festivais de espetáculo com jogos de combate entre muçulmanos e cristãos, várias peças, atos circenses, fogos, corridas de cavalo, dança e música. Uma miniatura remanescente mostra garotos dançando na água, cada um em pé numa pequena jangada redonda que é equilibrada por contra-pesos sob a água. Os dançarinos são amarrados à jangada por um mastro vertical escondido por baixo de suas saias longas. Levni, um pintor de miniatura do século XVIII, mostra claramente as cordas usadas para manipular essas pequenas jangadas. O sultão assiste à performance da praia. É impossível dizer quando essa dança deve ter nascido.

Em Istambul essas festividades ocorreriam no mesmo Hipódromo onde as festividades do Império Bizantino foram realizadas. Haviam também os feriados comuns de aniversário, religiosos, comemorativos e patrióticos que incluíam a dança como parte de suas celebrações. Estas teriam tido comerciantes e grupos de dança amadores e profissionais. Infelizmente, sabe-se muito pouco das danças feitas por dançarinas profissionais que trabalhavam nesses eventos. As informações específicas que estão disponíveis desses espetáculos datam dos séculos XVI a XIX, porque os visitantes estrangeiros que viram essas danças escreveram muita coisa sobre elas.

Os dançarinos e dançarinas são uma instituição reconhecida através do Oriente Próximo; eles eram os atores e atrizes da época. No entanto sabe-se tão pouco sobre eles porque a dança era tida pelos escritores estudiosos do passado como um "esporte impróprio e pecaminoso", especialmente quando curtido por profissionais. O nome para ambos dançarinos e dançarinas é da origem dessa palavra, similar à palavra "ingene", que significa cigano. A maioria desses dançarinos eram, de fato, ciganos. Há mais duas palavras para dançarinos: "kÕek" (e sua música kÕekÕe), e "tav~anÕa". A dança "tavsan rasan" (tavsan = coelho) se refere às caretas, contorções faciais, passos leves, pulos, e expressões que imitavam o coelho. A diferença de tav~an e kÕek era mais na maneira de vestir, segundo Metin And.

Os kÕek, ou dançarinos, eram organizados em diferentes associações ou companhias de artistas denominados"kol". Em meados de 1600 dizia-se existir cerca de três mil desses dançarinos, em aproximadamente doze companhias. Eles eram normalmente ciganos, armênios ou judeus, já que os turcos não deveriam entrar numa profissão tão degradante. Seja como for, esses dançarinos eram tão queridos por suas audiências que poetas cantavam seus louvores em versos, louvando sua beleza física e suas habilidades.

Os dançarinos eram jovens cuja dança e aparência sugeriam feminilidade. Às vezes deixavam seu cabelo crescer, decoravam seus cachos com ornamentos e usavam chapéus de ponta. Em algumas ocasiões até se vestiam como garotas. A dança deles consistia em andares casuais, estalar os dedos, movimentos lentos, gestos sugestivos, cambalhotas, luta-livre, rolar no chão e outras formas de mímica. Os garotos dançavam enquanto mantivessem sua boa aparência e pudessem ocultar suas barbas. Esse costume que tanto pasmou viajantes ocidentais cresceu por causa das proibições islâmicas contra associação com mulheres. Os dançarinos eram um substituto seguro para as garotas e mulheres proibidas, e qualquer relação sexual que pode ter resultado era forte parte da cultura, mesmo se não considerada respeitável.

As dançarinas também tiveram um séqüito. Foram muito faladas por serem muito populares e um encanto de ver. Um kol ou companhia de engi consistia da Kolba~i, a líder da companhia, sua assistente, e normalmente doze dançarinas e quatro músicas denominadas straci, uma das quais tocava violino, outra um tambor duplo denominado nekkare e as outras duas pandeiros. O limite de idade era de trinta a trinta e cinco. A Kolba~i e sua assistente eram mais velhas. A dança delas era descrita como contorções sugestivas, um punhado de brincadeiras com a barriga e torções de corpo, cair sobre os joelhos com o tronco inclinado (um cambrê) ao ponto em que os espectadores eram encorajados a por uma moeda na testa delas. Esse é o mesmo costume observado no Egito denominado "nukoot". Cada músculo e ambos os ombros eram tremidos (um shimis) e tudo isso era alternado com poses graciosas e afetações femininas. Às vezes elas fariam uma pantomímica de amor físico com expressão de paixão retraída; recuando como que alarmada ou humilhada e às vezes tomando atitudes assanhadas, fingindo jogar seu peito ou lábios aos espectadores.

As tendências homossexuais que ocorriam entre os dançarinos também ocorriam entre as dançarinas engi, que às vezes se apresentavam em Hamman. Havia um nome especial para esse tipo de dançarina, Zrefa ("graciosa"). Havia um tipo especial de lenço e uma língua simbólica especial para revelar suas inclinações. Assim como os dançarinos incorporavam dançarinas, as dançarinas ocasionalmente incorporavam homens, como elas sempre fizeram quando as mulheres faziam peças no isolamento do harém. Outro aspecto interessante das performances de harém é que os músicos que tocavam para as dançarinas do harém do Sultão deveriam tocar de olhos vendados.

Um acessório das dançarinas era um lenço de seda. Segurando as duas pontas do lenço de seda em seus dedos, elas representariam tanto a donzela tímida quanto a cortesã flertante; torciam um lenço colorido e o colocavam ao redor da cabeça ou pescoço, ou ainda segurariam o lenço em frente ao rosto como um véu, por isso os nomes da dança que sobreviveram são "kaytan oyunu" ou "tura Oyunu" (kaytan e tura significam corda de seda, trança, lenço com nós). Foi descrito como um pantomimo em relações amorosas executado acompanhado de pandeiro. Dançarinas modernas, imitando essa prática, usam véus grandes retangulares ou semi-circulares.

O estudo de desenhos de miniatura estilizados dessas dançarinas mostra um passo de dança tipicamente turco que sobrevive na dança folclórica turca hoje como "batida de pé" Pode-se achar incontáveis figuras com bastões calpara nas mãos, um braço sobre a cabeça e um pé levantado com a sola paralela ao chão, como se pronta para bater o pé. É totalmente provável que as duas populações distintas, urbana e camponesa, tenham influenciado uma à outra. Outros dois movimentos de dança tipicamente turcos, listados por Metin And, são agachar ou ajoelhar e batidas de pé.

Os autores de um tratado Francês da Dança Turca datado de 1583 comentam que muitos escritores acreditam que o estilo de dança engi se originou na Espanha. Metin And comenta que isso é bem provável, já que houve um movimento migratório de judeus da Espanha para a Turquia no fim do século XV e início do XVI. Uma descrição de dança publicada em 1759 também fez a comparação: "a agilidade das danças é regada a várias posturas indo contra a modéstia. Algumas dançavam à maneira da Espanha, com sofrível seriedade, e com castanholas nas duas mãos. A banda consistia em flautas, e tambores de diferentes tamanhos, em que batiam na parte de cima com um bastão, e na de baixo com uma bola, gerando com esse recurso sons diferentes." Isso foi mais provavelmente uma reocorrência de miscigenação cultural, já que ambas as danças vêm de raízes orientais.


Na Europa, o Sr. And comenta, a dança engi é invariavelmente chamada de dança do ventre (belly dancing ou danse du ventre), apesar do uso dos músculos pélvicos ou abdominais ser apenas uma das formas da dança cengi. Na opinião dele, dança do ventre é mais usado para referir-se a uma forma alastrada e degenerada de dança cômica da Anatólia.

A maior contribuição da cultura turca para a dança do ventre é rítmica. O estalo de dedos turco (um estalo especial, com duas mãos) é comum a danças ciganas e do oriente em geral. A Turquia tem história de manufatura de címbalos de metal de todos os tamanhos, que eram usados com fins bélicos. O Sr. And também comenta que ambos dançarinos e dançarinas marcavam tempo com estalos de dedos, baquetas ou castanholas de metal denominadas 'zil'. Em certa hora snujs pequenos eram tocados com um par em cada mão à maneira moderna por dançarinos e artistas. De fato, a palavra mais comum para os snujs modernos é "zill", que é a palavra turca para eles (a palavra árabe é sagat). Eles também usavam baquetas, um par em cada mão, como visto em vários desenhos em miniatura. Estes eram chamados de "carpara" ou "calpara", derivado da palavra persa "chalpara", que significa literalmente "4 peças". Eles tinham até um instrumento similar ao antigo crotales, que era um conjunto simples de pinças de três braços (ou zilli masa), com pequenos címbalos atados a eles. Era chamado de egane.

Além disso, a música turca tem padrões de ritmo complexos e incomuns, como o "asak" que são polirítmicos e assimétricos como 9/8, 9/4, 10/8, 7/8. O ritmo 9/8, ou karslima (ou kashlima) é muito usado como ritmo de entrada por dançarinas do ventre. A palavra "karslima" significa "defronte", e o Sr. And diz que essa dança era do gênero folclórico onde duas filas de dançarinas se encaravam.
Fonte: Biblioteca de Dança

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